sexta-feira, abril 30, 2010

Pecador

Enveredei-me em estreita trilha. Carregado de pudores, pesados e disformes, fui largando-os a cada passo. Desvesti-me dos dogmas e pré conceitos. Vislumbrei, ao longe, na trama das árvores nuas, a ardente luz dos pecados. Tentei-me, ah essa insidiosa tentação. O bafejo quente da inveja, dos orgíacos e devassos, me cobriu. Tolo, cobicei o gosto das mulheres que não tive em minha casta vida. Tê-las todas em minha cama, somente minhas. Desfrutar, então, de prazeres jamais sentidos e enroscar-me na teia da luxúria. Desempenhar como vigoroso garanhão, altivo, potente, incansável. Desprezar o lânguido ressonar dos valentes guerreiros após árdua batalha. Já tive demais disso em minha outra vida. A melíflua preguiça.

Com minhas mãos abro o caminho nessa vereda, palmo a palmo, gotejando o meu puro sangue, embebendo a terra antes sacra que pisei. Desfiz-me de pudores, vesti-me de pecados, para adentrar o inferno e, em fúria incontida, ceifar os demônios.



(Imagem: A tentação de Santo Antônio de Salvador Dali, e que foi gentilmente enviada por uma amiga muito querida)

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