Escritor
Depois de horas, olhando aquela resma de papel, me dei por vencido. Meus dedos travaram, minha boca secara. A mente se transformara em um campo estéril, sem vida. Minhas idéias se diluíram no mar de álcool consumido. Olhei o fundo do copo. Nenhuma gota, nada. A inspiração não deu sua cara, debochada. Ficou, talvez, perdida em meio à fumaça, dos muitos cigarros que fumara. O silencio era quebrado pelo bater ritmado do relógio de parede. A penumbra sufocante daquele quarto não me dava trégua, insuportável. Angustiado resolvo sair. Pela janela observara o movimento sutil da cidade. Talvez ali encontrasse essa musa desgraçada que atira, sem piedade, seu escárnio em meu rosto. Um vento frio me envolve. Uma bofetada. Encolho-me. Caminho pelas ruas já escuras. Ouço o som dos carros, das risadas bêbadas de algum bar próximo. Meus passos são absorvidos pelo pulsar do coração pétreo que sustenta a cidade. Pedras, pedras. Desvio para o beco mais próximo. Talvez ali, em meio ao fétido cheiro de lixo apodrecido, encontre-a. Musa, vagabunda. Flertando com outro, como uma rameira. Talvez na próxima esquina. Atento, ouço passos. Um tiro. O grito amargurado transborda da janela semi-aberta.
Encontro, enfim, a inspiração.
Leiam "Louco" um pouco mais abaixo.
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Leiam o blog Pseudo-Poemas. Leiam também o que publico no Cantábile. Em ambos estão os textos proibidos pela Bíblia e pelo Vaticano. E agora também no Memórias Póstumas de um Puto Prestimoso.
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