A vida entremeada - Epílogo
Caminhava leve, sem notar os olhares que atraía. Mantinha o olhar altivo, sua marca registrada. Mulher que nunca se deixara vergar, sob o peso das responsabilidades. Pensava apenas em chegar logo em casa, na comida a fazer, roupa a lavar, ligar para seu amigo escritor. Coisas simples, assim como sua vida simples. A longa viagem de ônibus, desde o árduo trabalho, não tirara o viço de seu rosto. Nem o molejo de seus quadris. Sabia-se desejada, nunca lhe subira à cabeça, entretanto, essa cobiça latina. Mantinha-se casta, mulher de um homem só. Apenas leal e fiel. Parou um instante, observando sua morada. Dezenas de pessoas amontoadas. Mas não reclamava, mesmo quando percebia os olhares de inveja e ouvia os ecos das fofocas e maledicências das megeras e beatas. Suspirou. Sem resignação, porém. Saudada mudamente, deu os passos finais. No abrir da porta ouviu seu nome. A voz mais que conhecida. Ao virar-se percebeu a arma na sua mão. O olhar louco. Desesperada não reagiu. Quedou-se ali, atônita. O disparo acertou-lhe em cheio a têmpora. Gritos e sons de passos. Fraquejaram suas pernas, em agonia.
Por que ele fora ali se matar?
A vida entremeada foi um projeto que me propus a realizar incentivado pela Letícia Coelho e a Lunna Guedes.
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