sábado, maio 31, 2008

Desafio

O Tozé Ribeiro, do blog Ministério da Soltura, me passou um desafio interessante. Me enviou 3 imagens para que eu escolhesse uma e escrevesse a respeito. Aqui está.


É noite, a ante-sala me sufoca. O cheiro nauseante das úmidas paredes mofadas, me engulham. Sou tomado de calafrios. Frio. Preciso de ar. Preciso da cálida luz da lua. Aberta a porta, titubeio. Não sou livre, não sou senhor de mim. Um títere disforme de um ser humano. Obrigo-me ao primeiro passo. A cidade opressiva, senhora cruel dos destinos, me espera. Libertar-me-ei dos grilhões enferrujados, enfim.

Tragam-me outros.

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Quem se interessar em enfrentar esse desafio entre em contato com o Tozé, pelo link acima.

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quarta-feira, maio 28, 2008

A vida entremeada - Epílogo

Caminhava leve, sem notar os olhares que atraía. Mantinha o olhar altivo, sua marca registrada. Mulher que nunca se deixara vergar, sob o peso das responsabilidades. Pensava apenas em chegar logo em casa, na comida a fazer, roupa a lavar, ligar para seu amigo escritor. Coisas simples, assim como sua vida simples. A longa viagem de ônibus, desde o árduo trabalho, não tirara o viço de seu rosto. Nem o molejo de seus quadris. Sabia-se desejada, nunca lhe subira à cabeça, entretanto, essa cobiça latina. Mantinha-se casta, mulher de um homem só. Apenas leal e fiel. Parou um instante, observando sua morada. Dezenas de pessoas amontoadas. Mas não reclamava, mesmo quando percebia os olhares de inveja e ouvia os ecos das fofocas e maledicências das megeras e beatas. Suspirou. Sem resignação, porém. Saudada mudamente, deu os passos finais. No abrir da porta ouviu seu nome. A voz mais que conhecida. Ao virar-se percebeu a arma na sua mão. O olhar louco. Desesperada não reagiu. Quedou-se ali, atônita. O disparo acertou-lhe em cheio a têmpora. Gritos e sons de passos. Fraquejaram suas pernas, em agonia.

Por que ele fora ali se matar?

A vida entremeada foi um projeto que me propus a realizar incentivado pela Letícia Coelho e a Lunna Guedes.

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Kama Sutra Esotérico

Hoje tem parte II. Conheçam as principais posições do Kama Sutra esotérico Oportunista, clicando AQUI.

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terça-feira, maio 27, 2008

Além

Uma boa noite lhe desejo, meu caro, ou um bom dia tardio. Sabei-me um embriagado esse que vos escreve. O céu amanheceu cinzento, como o pesado coração que carrego. A fronte retumba como címbalos. Sei lá eu que maldita bebi. Vestido em ricos andrajos, lembro vagamente do cambaleante andejar. Tracei meu rumo pelas estrelas, assim não me perderia entre os becos imundos. Parece-me que hoje já não sou aquele que era. Perdi as estribeiras, o siso, a questão irrespondível. Mas logo, o bafejo da maresia, naquela última esquina na praia de tão alegres lembranças, trouxe-me alento, meu amigo. Aspirei o ar salgado e, agora lúcido, pude vislumbrar a penúria de minha situação. Decidido vou-me, mas sem antes dizer-lhe que o convívio consigo foi um privilégio.

Não haverá mais o singelo florir de Ipês. Nem jamais irão chilrear os sabiás.

Parto, mas volverei.

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segunda-feira, maio 26, 2008

Vazio


Ecos, na casa agora vazia,
pela janela, o inverno chega,
julgam-se as árvores moribundas,
derramam-se em folhas, amarrotadas.

Abriu a derradeira porta,
deixou-se consumir pelos ruídos do passado,
o triste canto do cisne,
o seu próprio réquiem.

Em seu último passo,
a lembrança dela o atingiu,
morreu assim,
com um sorriso e uma lágrima.

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sexta-feira, maio 23, 2008

Velório


Como gato vadio,
do alto do muro assobio,
uma marcha fúnebre.

Meretrizes, cafetões e malandros,
o ferétro, cortejo honroso,
do ébrio poeta.

São sombras estas, que passam,
cheirando a cachaça,
vômito e fumaça.

Presto o último gesto,
ergo o cálice e disparo, certeiro,
a cusparada grossa.

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quarta-feira, maio 21, 2008

Ato

Já disse antes, nas tardes frias do outono, que ainda nada sei sobre o amor. Sei apenas o que sinto. As batidas arrítmicas que ora falham, ora teimam em pulsar distantes, no livre olhar, de tua sombra delineada. O rasgar da alma, no ouvir etéreo de sua voz, mas o amor mesmo não conheço, não lhe fui apresentado.

Sinto-me um trapezista, triste artista, que no ar se lança, sem rede.

O inverno da minha vida se aproxima.

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segunda-feira, maio 19, 2008

Reflexivo


Pairava por ali o velho, no sombrio entardecer,
aboletava-se no promontório,
o duro resguardo, a torre da vigia.

Cheirava o vento, a tempestuosa aragem,
estava ele só, com seu cachimbo velho,
tão antigo como o vinco das rugas,
cicatrizes do tempo, da incessante faina,

Os sinais emergem, das brumas, da fumaça,
no seu pito, acalmava suas lembranças,
naquele entristecido entardecer sombrio.

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Figuração

Superlativo, pleonástico, se valia das prosopopéias e mantinha aquele ar misterioso, calado. Abria a boca apenas para onomatopéias, algumas subliminares interjeições adverbiais. Transitava, despreocupado, pela hipálage. Criava hipérboles paradoxais. Era um mestre da antífrase. Afinal, era metonímico, alegoricamente antonomásico. Abraçou, no fim da vida, a causa sinestésica. Angustiava o coração com catacreses. Morreu de metalepse fulminante, sem nenhuma antítese. Por ironia, sua lápide foi sua obra-prima, a suprema perífrase.

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Congratulações


Hoje brindo ao aniversário da grande madrasta, a única, a incomparável, a psicopática, a mazela das princesas do reino, sim ela mesma a Evil Queen do blog Devaneios e Desabafos, entre outros. Parabéns minha amiga e parceirona, mesmo que ausente e envolvida com suas poções mágicas, que possamos todos comemorar muitos anos ainda.

Como presente te enviarei um email com mais de 3.550 memes e 232.452 selos canhestros ehehehehehe.

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domingo, maio 18, 2008

Amanhecer

Era alvorada. Cuidadoso, abriu a porta. Silencioso, observou cada objeto da sala. Conformado, tomou do revólver. Desapaixonado, descarregou a arma no maldito galo.

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sábado, maio 17, 2008

Patíbulo

O processo foi extenuante. Condenada, caminhou lentamente ao longo do corredor. Perguntada quais suas últimas palavras, respondeu: Aceito!


Inspirado nesse mini-conto AQUI.

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sexta-feira, maio 16, 2008

Metamorfa

Claustrofóbica, forçou a parede. Quis, a natureza, que assim fosse a triste sina da borboleta.

Originalmente publicado no Twitter. Tenho tentado escrever lá pequenos textos como esse.

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terça-feira, maio 13, 2008

Juarez e as formigas

Tem post novo lá no Juarez, o Cabrito Montês. Prestigiem.

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segunda-feira, maio 12, 2008

Réquiem II


Retiro-me, aliviado, desse mundo austero,
Embriagado, a esbórnia era meu bordão,
Queria eu levá-las para o além, também,
Unidas em meu louvor,
Irrequietas amantes, platéia gentil,
Empinadas ancas dadivosas,
Mulheres-dama, as putas.

As trovas que cantei,
Empoleirado em mesas sórdidas,
Trouxeram-me alegrias e tristezas,
Esquinas imundas e fétidas,
Receberam, ávidas, meu regurgitar,
Noviço que era,
Artista imberbe,
Mamulengo dos bordéis.

Desgraças me perseguiram
Odres esvaziados pelo gargalo
Nuvens etílicas, a espuma do mar,
Amargor da ressaca, do desesperado amar.

Eis me aqui, listo,
Insaciado, saudoso, vil
Sigo a luz, o barril.

A expressão requiem aeternam dona eis, significa 'dai-lhes o repouso eterno'.

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Procurava, desesperada, por companhia. No beco escuro entrou, onde sentiu o lascivo roçar nas pernas. Arrogante, acendeu um cigarro. Eram apenas ratos.

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domingo, maio 11, 2008

Busco

Caminho pelo vale das sombras,
castigado pelo sol oculto, nas nuvens,
árido é o chão. Estéril a terra, nua.

Quis eu que assim fosse.
abracei a causa da penúria.
os poços, secos, refletem minha amargura,
o (in)conformismo com o fim.

Nascido do ventre virgem, a fórceps.
Onde está você, mãe?

Minha homenagem a todas mães. Vivas ou não. Seja um leitor legal ou uma leitora camarada e dê um presente para sua mãe. Afinal, mãe só tem uma.

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sexta-feira, maio 09, 2008

Ante


Tateio meus quereres.
E, na janela, paisagens desfiam,
meus destinos, mutantes.

Forçada a distância,
na torre de vidro,
me faço arguto vigilante.

Ensaio, a passo, os passos,
arreio minhas quimeras,
torno a dança cortante.

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quinta-feira, maio 08, 2008

Disritmia

Ando meio espantado. As coisas vão acontecendo e você, de repente, se vê em meio ao caos. Uma introdução dramática essa. Mas vejo minhas letras e muitas dúvidas me assombram.

As minhas queridas amigas e guruas, a Saramar e a Rose, já tinham me dito isso, que a poesia é, antes de tudo, uma construção vocal. Você escreve, fala e reescreve. Da palavra falada para a escrita, vice e versa. As palavras ditas ditam o ritmo do texto. Interessante, nunca declamei nada que escrevi. Vi uma poeta declamando uma vez, algo fora do comum, de arrepiar.

Olho para o passado destas letras talhadas, não seria capaz de dizer se tem ritmo.

Um desafio.

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Tem texto novo no Memórias Póstumas. Clique AQUI e conheça a história de Z.


Não entendeu? Clique AQUI.

Aparentemente, no final das contas, o doente já tinha conseguido o remédio pelo SUSto. Para quem entende desse papo jurídico acesse AQUI. Peço desculpas pelo caso.

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sábado, maio 03, 2008

Esquife


Palmilho, teimoso, o mudo fim,
agônico, suo o suor frio da morte,
ante a forja faiscante, ao som da bigorna

O acerto duro, do golpe certeiro,
atroz açoite cadenciado,
marca-me o ocaso, impiedoso.

Já são secas as lágrimas, não há despedidas
apenas a pedra no espelho manso do lago,
que estilhaça o reflexo das mil faces atemporais.

Forjo, em aço, o ataúde,
a morada final da alma indestrutível,
minha síntese, o cerne,
quem eu realmente sou.


A quem quiser conhecer um pouco do meu passado convido para dar um pulo AQUI.

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sexta-feira, maio 02, 2008

Guerra


Orgulhoso, pintara-se,
firmes são os traços,
rubra a tinta,
rosto e torso.

Bateu-se em batalha,
coberto voltou,
de sangue e lágrimas,
morto.


Talvez ficasse melhor como mini-conto...

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